Na semana passada, no metro, assisti a um momento que me deu assunto para pensar.
Eu estava sentada naqueles bancos de quatro, em que há dois pares de bancos virados um para o outro, e numa das estações entrou um senhor, ele vinha incrivelmente suado e tinha um tom de pele escuro, como se fosse de etnia indiana, notava-se que tinha feito uma boa corrida para conseguir apanhar aquele metro. Assim que entrou, ainda muito acelerado, veio em direção ao banco frente, e com a força do início do andar do metro, o senhor quase caía em cima de mim, eu agarrei-o, perguntei se estava bem e ele pediu desculpas, tudo bem.
A senhora que estava a meu lado, e diretamente em frente ao senhor, encolheu as pernas e empurrou contra si, os seus imensos sacos de compras, de imediato o senhor disse-lhe ironicamente:
"Oh minha senhora, não se preocupe que eu dou-lhe espaço"
A senhora:
"Não, eu é que lhe quero dar espaço, que eu tenho aqui tantas coisas..."
O senhor insistiu em levar a mal aquilo que acredito que tinha um fundo de genuídade, ele chegou a ser mal educado com a senhora, de tal forma, que ela levantou-se e mudou de lugar. E eu ali, a pensar para mim mesma - Mas que raio??? Eu acho que há aqui algum tipo de insegurança, mas porquê? Será fruto de toda a discriminação que existe neste país, neste mundo...
Eu vou falar tal e qual como as coisas são. O meu pai, por exemplo, não gosta nada que eu fale assim, mas para mim existem pretos e brancos, somos todos iguais, mas há pretos e há brancos, eu sou preta! Quando era miúda, na escola, os meninos grandes faziam fila atrás de mim a cantar:
"Mousse de chocolate alsa!
Musse de chocolate alsa!"
Isto repetidamente, e eu chorava tanto, hoje em dia rio-me, até tem piada, na altura era horrível, mas foi nessa altura que conheci crianças incríveis que me defendiam e hoje em dia são os meus melhores amigos. Mas focando! Poucas vezes na minha vida fui alvo de discriminação por causa da minha cor, mas as vezes que fui, foi por coisas estúpidas como ser criticada por supostamente ser uma "preta armada em branca" (esta eu já ouvi tanto de brancos como de pretos, basicamente quer dizer que tenho a mania, sou Oreo) ou pessoas a torcer o nariz quando me vêm na rua com o meu namorado branco, chegaram até mesmo a dizer-me que dificilmente conseguiria trabalho numa empresa por ser preta e, ainda por cima, usar tranças. Esta última foi dita por um preto.
Andamos a disparar discriminação para todos os lados, dentro e fora da nossa cultura. Nós, brancos e pretos, pretos e brancos, enchemos a boca para dizer que não há discriminação em Portugal, mas todos os dias existe, porque o preto é arruaceiro e cheira a catinga, mas adoramos Cachupas e Kizombas, porque o asiático só sabe abrir lojas chinesas e extorquir dinheiro fora da terra dele, mas adoramos comida chinesa e japonesa, porque os ciganos são uns porcos mas estamos lá todos nas feiras à procura de um bom achado...
São infinitos os estereótipos, mas afinal... Somos todos pessoas!